terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A lucidez de Criolo Doido Por: Juca Guimaraes
Depois da ponte, à esquerda, onde duas lajes são um tríplex o agitador cultural e rapper Criolo Doido engendra os rumos das incursões e revoluções no movimento hip hop de São Paulo e do país.
Com duas décadas de vida dedicadas ao rap, o Criolo Doido tem experiência e discernimento suficientes para falar abertamente sobre o rap nacional. Tanto como fomentador quanto como integrante da cena.
Criolo Doido durante apresentação no Festival Dialeto, em 2009.
Foto: Divulgação/Dialeto
Aos 35 anos, o criador da legendária ‘Rinha dos MCs’ _aquela onde só um canta de galo e o resto é frango _prepara-se para lançar o primeiro DVD. A festa de lançamento será no próximo dia 27, no Hole Club.
‘Live in São Paulo’ é o registro de um show realizado em dezembro de 2008 em uma edição especial da Rinha dos MCs, no centro da cidade. O DVD, produzido pelo coletivo Arranca Tampa e dirigido pela Viviane Rocha, tem dez faixas que sintetizam os 20 anos de carreira do músico e no bônus a inédita Grajauex. Homenagem ao bairro onde ele se criou na zona sul da capital e também para todas as quebradas do rap.
“A rinha pode ser comparada como uma espécie de peneira ou uma escola onde o mestre é o próprio Mc, mas eu acho que o grande mérito é a formação da autoestima. O mano chega lá e enfrenta o medo de subir no palco e mostrar o seu talento”, avalia o rapper.
DVD foi gravado em dezembro. Arte da capa: Lia Udi Foto e lambes: Gabriel Correia
Mais do que uma prova de fogo, a rinha é o ambiente onde os jovens que não encontram espaço para fazer rap podem lutar pelo seu sonho e reaquecer a esperança.
“Se o mano encontra força dentro dele para enfrentar uma platéia de 500 pessoas e desenvolver a sua arte, ele vai ter coragem também para ir numa empresa e entregar o currículo. A mensagem real da rinha é essa: esperança. Sem esperança não tem confiança”.
Desde 1989, o rapper mantém como temas recorrentes de suas músicas a ecologia, os conflitos sociais e a repressão. “Eu digo numa letra o seguinte: “Para quem tá com fome desce três marmitex’ e é isso. Tem que pensar no problema e na solução mais simples. Antes de tratar os grandes temas de desigualdade, tem que acabar primeiro com a fome”.
O DVD tem participações especiais de peso. Estão lá: Terra Preta, DJ Marco, DJ Dan Dan, o coletivo Xelami, os poetas Alessandro Buzo e Akins, a galera do Pentágono, ente outros. Ao todo são 45 minutos de show mais bastidores e entrevista.

Criolo Doido, ele sabe o que faz. Foto: Gabriel Correia

Caminhada de um lúcido

ONTEM – O primeiro contato com rap não poderia ter sido mais impactante para o Criolo Doido. “Eu tinha 14 ou 15 anos e um colega de escola fez umas rimas porque achava que não ia passar de ano da sétima para a oitava série. Ouvi aquilo e nem sabia que era rap, mas foi ali que a coisa bateu na minha cabeça”. Desse primeiro contato com o rap veio a vontade de fazer rap também e registrar os dramas do cotidiano.
HOJE – A necessidade de fazer música e intervir na sociedade são os motores criativos do Criolo. “Tudo o que eu faço é para a cidade de São Paulo é pela cidade. O rap é uma filosofia. Não posso pensar o que é que o rap vai fazer por mim, mas sim o que é que eu faço pelo rap. Enquanto existirem os problemas que estão aí hoje vai existir o rap. E, se um dia os problemas acabarem, vamos fazer rap para comemorar”. Sobre os alagamentos e a onda de violência no Grajaú, Criolo Doido é categórico. “A culpa é de quem arquitetou a cidade e deixou o nosso povo excluído e sem opções. Cada garoto fumando crack no Grajaú é um troféu para quem promove a exclusão dos pobres. É isso que eles querem. Eu poderia fazer uma música sobre as famílias que estão desabrigadas por todo o bairro, mas não vou fazer por respeito à dor deles. A crítica contra os governantes eu faço em todas as minhas letras”.
AMANHÃ - Além da rinha, que vai continuar como a principal atividade do músico, o rapper quer se dedicar a novas experiências e gêneros. Os principais deles o samba e a MPB. “Não é que eu esteja cansado do rap, mas eu estou cansado da minha presença dentro do rap. Quero fazer mais, quero ir além. São 20 anos dentro da rap. Eu vivo o rap com a máxima intensidade, mas não é só isso que eu posso fazer. Se alguém vier criticar ou reclamar só posso dizer que estará apontando a arma para a pessoa errada. Eu não estou abandonando nada. Fiz muito pelo rap”.
Comentários:
Criolo Doido disse:
quando digo em uma frase …” fiz muito pelo rap” é uma ironia ,espero que todos compreendam, se fosse um video dava pra ver minha expressao . quando falo ”fiz muito” e junte esta sonora às minhas ”caretas” da pra ver que por trás desta frase ta a seguinte informaçao ; fiz muito , MUITO POUCO !!!
agradeço ao site pela materia .

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